segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Os almoços do meu descontentamento



Ainda tenho esperança que alguém me consiga fazer ver a luz um dia destes e assim deixar de ser esta rezingona encartada. Tenho esperança que exista algures por ai alguém que me vá explicar porque é que esta história dos almoços de família, com os pais de cada um dos elementos do casal, faz sentido e acontece no mundo dito civilizado. Isto porque tive uma terrível provação este fim-de-semana da qual vou demorar muitos dias a recompor-me (ontem ainda estremecia quando o telefone tocava), com a agravante de, tal como os impostos, a situação se ir agravar no futuro, porque nenhuma das partes mostra vontade de ceder nesta troca de almoços-galhardete, ora agora ofereço eu, ora agora ofereces tu, mas porque raio então não vão almoçar os quatros e me deixam em paz (se quiserem levar o mini terrorista para lhe aturarem a birra, muito agradecida!). Porque o meu pai e os meus sogros acham que têm de conviver. De estar. De falar. De respirar o mesmo ar. Vá-se lá saber porquê! Este suplício de Tântalo não é novo da minha vida: remonta a mil novecentos e noventa e troca o passo, quando o meu pai e a sua mulher acharam que tinham de conhecer e conviver com os 'compadres' que, do outro lado, eram ainda mais efusivos com a coisa. O que é que aconteceu depois? Separei-me e os compadres, os grandes compadres, nunca mais se viram na vida e a seguir ao primeiro Natal pós-separação dos filhos, nunca mais se lembraram de assinalar, nem pelo telefone, as datas festivas. Agora, como num pesadelo, volto a viver a mesma história outra vez. Como um daqueles pesadelos, em que achamos que acordamos mas ainda estamos a dormir e depois despertamos de novo, mas, merda, o monstro ainda lá está, a querer devorar-me. E lá veio mais um almoço, que basicamente me usurpou de quatro horas do meu precioso fim-de-semana, com um puto mal disposto porque não tinha dormido a sesta e estava um barulho infernal no restaurante, aos berros e a atirar comida pelos ares, com mais danos colaterais do que um drone norte-americano, as avós a tentarem acalmar a fera, que não acalmava, os dois pais sentados lado a lado, indiferentes ao neto se ter tornado no exterminador implacável – os homens daquela geração ainda acreditam que os putos são da exclusiva responsabilidade das fêmeas - e nós só a pedir (como sempre) que não falem de política, um com a mania que é socialista, outro do Estado Novo, e depois eu a pensar que podia relaxar porque o meu pai, mais uma vez, não ia deixar o outro pai dizer fosse o que fosse porque desconhece a capacidade humana de escutar, enquanto o filho e pai da minha criança está com ar de caso e de quem vai estrangular o meu pai porque não deixa o pai dele abrir a boca, e já vejo uma das avós em choque porque o puto meteu o sapato na boca e eu deixei (anything para se calar dois minutos), e ele não come peixinho, não, não come, só batatas fritas bem oleosas, com as mãos sujas, e eu à beira de uma apoplexia, e a pensar… mas porquê? Estas pessoas não têm absolutamente nada em comum. Se se conhecessem em qualquer outro lado, em qualquer outro tempo, não iam querer ser amigos, mas nunca na vida. Eles iam pegar-se aos berros por causa de politica. Elas não teriam nada em comum. Mas de alguma forma doentia, enfiaram na cabeça que, lá porque os filhos se entenderam. também têm de ter uma relação. Quero dizer, já é tão complicado termos uma relação com os nossos pais, quanto mais quando se decidem juntar todos! O puto esperneava e eu por dentro dava ainda mais pontapés. Acabei por sair de lá aos gritos a dizer que o ia adormecer no carro. Eu e o pai da criança discutimos claro. Mas os nossos pais não. Deram muitos abraços e o meu pai disse ‘na próxima é lá em casa’. Pode ser. Não sei é se a relação do casal em si aguenta outro almoço. E ai, é que eu quero ver!


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