sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Lado sombra
Tenho mesmo de escrever num blogue completamente anónimo. Onde não exista ninguém capaz de associar o meu nome a qualquer palavra, o que não é o caso mesmo quando sob pseudónimo. É castrador porque A, B ou C sabem quem somos. E há sempre um lado de nós sombra, que não nos sentimentos bem em mostrar ao mundo, por isso mesmo é sombra, se não seria outra coisa qualquer, a nossa personna exposta em selfies no facebook, os nossos sorrisos em família, o está-tudo-bem como se só podesse estar tudo bem, claro, não há outra forma de estar. Nada há de mais castrador do que saberem quem somos. Ou pensarem que sabem quem somos. Aqui não é a questão de me sentir de alguma forma em falta por não mostrar tudo o que sou. Não quero mostrar. Não me quero dar aos outros. Quero guardar para mim as minhas psicopatias, sociopatias, e por aí fora. Ter o meu Dexter interior. Não há liberdade se todos souberem tudo de todos. Não me parece sequer que exista espaço para a criatividade, porque a criatividade é tantas vezes uma fissura no interior de nós, escondida, acarinhada como se fossemos gatos a lamber uma ferida. Gosto das minhas feridas. Das minhas fantasias. Dos meus desamores. Dos meus desabafos para mim mesma falando. Gostava era de falar deles sem ser eu. Se o fizer, deixa de haver escondido, não dito, privado. Se o fizer, deixo de ser eu aos olhos de quem os lê e me (re)conhece. Passo a ser filtrada por algo que está em mim, mas não me define. Por algo que conto da minha vida, mas não me assombra. O juizo dos outros está em todo o lado, está em mim, está no user, no friend, no follow, no filho, no namorado, na melhor amiga, na colega que se senta à nossa frente, no colega que fala do tempo no elevador, na mãe, no pai, na irmã, no gato. Ás vezes parece-me que a liberdade só é real comigo sozinha comigo. Ponto real.
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