sábado, 26 de janeiro de 2013

Anna Karenina: a paixão não mora aqui, mas o blush si m

Como é que um dramalhão a sério, como a Anna Karenina do Tolstoy, um dos melhores livros da história da literatura mundial,  uma bíblia na questão também ela já bíblica,  do adultério,  pode, na versão assarapantada de Joe Wright, o mesmo de filmes de mérito como Expiação e Orgulho e Preconceito, (mas está certo, seguiu se o inaceitável O Solista a antever maiores desgraças) , não suscitar em quem assiste - neste caso eu - a mínima, mais ínfima, a menor migalha de empatia para com aquela pobre mulher, vítima de um amor ao qual não resiste porque esse amor é a própria vida, a vida condensada num homem - quer dizer, quem de nós nao amou já assim, nem que fosse uma vez, quando éramos jovens e tontos e reféns da dor que chegava a ser física da ausência - , mas incapaz de pagar o preço que lhe é exigido para viver esse amor, e que é  perder o filho e ficar para sempre à margem da sociedade russa da época, em que o adultério acontece discreto sem colocar em causa a instituição do casamento, regra que ela quebrou ao fugir com o amante? O filme é um vazio de emoção,  um arroz doce sem açúcar, apesar da beleza dos cenários,  do guarda roupa, da coreografia das dancas, do movimento teatral de que está imbuído.  Primeiro, porque o Joe se demora a pastar ovelhas até ao início do affair, fascinado pela sociedade aristocrática do século xix na Rússia czarista, metendo os todos a dancar como borboletas, e despachando o processo de progressiva loucura de Anna e o afastamento do amante para a meia hora final; depois,  porque aquele par de jarras dançante, Keira Knightley e Aaron Johnson, não convencem ninguém, ela perdida em esgares que já repetiu em todos os outros filmes do Joe,  e que o realizador parece identificar vá se lá saber porquê com arte  dramática,  ele porque é demasiado ken para ser humano, tornando assim impossivel acreditar no poder de sedução do mítico Count Vronsky, ora se este tem rosetas com blush na cara e cabelo pintado de loiro. E nem um contido e exemplar Jude Law salva o ramalhete de um filme que é um festim para os olhos e um soporifero para Tolstoy e para a nossa alma.

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