quinta-feira, 5 de abril de 2012

Em busca da vida eterna...

Hoje escutei, pela septuagésima sexta vez, entre um grupinho de colegas com algum tempo a perder, uma altercação interessantíssima, que versava-sobre a questão dos comprimidos, fármacos, drogas legais, o que lhe quiserem chamar. Uma delas tinha tomado um Brufen para a dor de cabeça. Coitada, caiu no erro de distribuir a informação pelo grupo de trabalho, ao contrário de mim, que me drogo no mais absoluto silêncio, tragando em segredo qualquer Victan ou Xanax quando me sobressalto demais, o meu Brufen para a mínima dor, o meu Cipralex para fases mais difíceis da vida, ou o meu Clonix quando o siso me aborrece, e por aí fora). Mal esta informação foi comunicada, logo ressoaram as vozes femininas sobrepostas, mas logo uma delas conseguiu impor-se às outras e dizer que nunca tomava nada para a dor de cabeça, mas nunca mesmo, nem mesmo quando parecia que lhe estavam a arrancar os ovários (calculo que isso seja motivo de orgulho, por algum apelo cristão do principio que a dor redime do pecado ou então gosta de apanhar e ainda subverte a informação e tem mérito por isso), Mas de imediato o cacarejo subiu de tom e outra voz chacinou a desgraçada com um ‘tomaste um Brufen para uma simples dor de cabeça?'. Afinal, parece, pelo que depois explicou com determinação e maternalismo, que aquilo resolvia-se com uns passes de reiki ou com dez minutos de meditação transcendental ou com uma sessão de terapia, porque já se sabe que tudo tem causas psicossomáticas, ou então com umas mezinhas que metiam confeccionar chás complicadíssimos pelo meio e que não me pareceram nada fáceis de fazer por uma pessoa de perfeita saúde, quanto mais quando atacada por lancinante enxaqueca. Outra colega, indiferente do sofrimento da colega, saltou-lhe para a frente da secretária, os olhos ligeiramente enlouquecidos, a grasnar que não devia fazer isso, quando há tantas coisas naturais, e 'estás a tomar essas drogas fortissssssssssimas, isso é tão mau para ti, vai envenar o teu corpo e destruir o teu fígado e o teu estômago e o teu baço e eu nunca tomo nada disso, nem quando dei à luz e tive de levar vinte pontos porque o meu Salvador estava com imensa pressa em sair'. Eu, calada que nem um rato, olhava com admiração para o grupo de almas abnegadas, que já conheço pelos seus hábitos de vida epicuristas versão século XXI. Claro que já sei que nunca tocam em frango por causa das hormonas (ou em qualquer tipo de carne, pensando bem), que a sua boca não roça uma pera rocha ou qualquer outra fruta ou vegetal que não seja biológica, por causa dos pesticidas ou dos lençóis de água que há por aí cheios de porcaria, que nunca comem um belo croissant ou pastel de nata, cheios dessas gorduras pouco saudáveis que há nessas margarinas industriais, e muito menos render-se àquelas bolachas de chocolate, refrigerantes ou (pecado mortal) qualquer refeição congelada, devido a todos os EE's existentes na sua composição, e que desenvolveram um gosto estranho por ler rótulos e por iogurtes biológicos e leite de soja e afins, e que nem sequer fodem, porque o preservativo tem latex e a pilula já se sabe provoca enfartes, além de não terem tempo para arranjar um gajo porque este estilo de vida rouba muito tempo. Claro que, tal como todos nós, vão ter de acabar por morrer. Mas eu nunca tive coragem de lhes dizer isso, de tal forma estão motivadas para a vida eterna. Amén.

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