sábado, 14 de abril de 2012

A importância de não votar por causa do preço da gasolina

Este ano, seja lá quando for e houver aquilo a que se chama eleições democráticas - vou ficar em casa. O meu bum bum não se vai levantar do sofá excepto se não houver programa domingueiro bem mais interessante, como ir dar à língua com uma amiga para a esplanada do Piazza di Mar ou aos saldos na Mango ou da Repsol. Não vou votar. Não me apetece. Mas além desse sentimento tão genuíno dentro de nós e basicamente tão mal tratado - o apetece-me ou não me apetece - a gasolina está cara. Um litro da dita já é mais caro do que um croissant com chocolate ou um Twitter ou mesmo um top de alças da Primark. Para me deslocar à urna de voto são quatro quilómetros, o que na verdade é dinheiro, que prefiro amealhar para dias futuros, num daqueles novos programas de poupança da Caixa Geral de Depósitos a que o Bruno Nogueira, o grande humorista antissistema, dá o nariz porque a vida é onerosa e a TSF não paga assim tão bem. Além disso, não jogo no euromilhões. Ter de sair de casa, fazer quatro quilómetros em trilhos lisboetas com crateras, procurar um lugar para estacionar, ter de dizer não a dez arrumadores de cara bexigosa e ausência de dentição, a cinquenta mil bombeiros que aproveitam sempre esta data para andar a pedinchar uns cobres para poderem combater fogos, quando devia ser o Estado a tratar disso, e mais os escuteiros que nos tentam impingir uns pins merdosos a troco de dinheiro lá para as idas a Fátima e essas coisas que eles fazem, e mais a gincana pelas escadas da velha escola secundária, porque não há velhote de muletas que não decida cumprir o seu dever e elevadores é que coisa que não existe, a que se junta a fila interminável, com o vizinho de trás a desconhecer a regra básica que não é por estar a respirar para o meu pescoço que se vai despachar mais rápido, e depois os senhores com ar muito sério em carteiras de escola a ler o meu nome em voz alta e a fazer ecoar velhos traumas com a questão da autoridade, tudo isto é muito trabalho para um dia de descanso e para entregar um boletim do euromilhões, eu que basicamente nem o entrego na papelaria que fica a dois passos de casa. Quanto mais passar por uma odisseia para meter numa urna um boletim que é que basicamente como jogar com a mesma chave do euromilhões todas as semanas durante anos. Pior ainda: é que eu sei que não vou ganhar prémio. As probabilidades de um ser humano ganhar o euromilhões é de 1 para 116,531,800. , o do meu voto mudar alguma coisa no sistema político português é nulo. Portanto, tanto trabalho para entregar um boletim à partida viciado? Os crápulas que lá estão instalaram-se porque de quatro em quatro anos os portugueses, independentemente do que eles fizeram no passado –leia-se: no dia anterior; leia-se; tirar-lhes direitos; leia-se: fazê-los pagar a crise de que eles são os responsáveis -, os colocam lá, e mesmo que existam uns seres humanos movidos por motivos mais ou menos válidos acantonados em partidos minúsculos, a verdade é que a incapacidade crónica dos tugas de verem mais do que dois quadradinhos para colocar a cruz coloca sempre os mesmos no poder, geralmente com gravatas verdes, vermelhas ou azuis, têmporas grisalhas e um ar pesaroso, de quem carrega às costas o peso do país, com palavras redondamente vazias, e que, acima de tudo, se preocupa com o seu plano poupança e querem sair de lá com uma conta off shore nas ilhas Caimão. E não sou rica para andar a pagar férias a ninguém. Nem para gastar gasolina, assim, em tempo de austeridade. Afinal, estamos em crise.

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