terça-feira, 3 de abril de 2012

É tão foleiro o amor...

Sempre achei que o amor era uma coisa perigosa do ponto de vista estético e sabes que se há alguma coisa que eu sou é uma miúda muito estética, com alergia precoce ao foleiro. Quando se fala de amor é tão fácil resvalarmos para a lamechiche, para a escrita querido-diário-tenho-16 anos-e só sei falar de pores-do-sol e entardeceres mágicos na praia e de essa trampa toda para que já não há cu depois dos 35, porque isso não tem absolutamente nada a ver com o amor. É fácil concluir isso de uma observação atenta: quantas pessoas apaixonadas se dedicam realmente a pores-do-sol ou entardeceres mágicos? Além disso, seria um pouco limitativo, porque o amor dependeria de lugares exteriores – o raio do sítio onde se vê o pôr-do-sol - e não interiores. Se não houver pores-do-sol porque o dia está nublado, ou entardeceres mágicos na praia porque se vive no interior do país, o que é fazemos? As figuras estilísticas não me ajudam nesta árdua tarefa de dar forma ao que por si não tem forma. Por isso, quando quero fazer uma declaração de amor sinto-me uma pata choca, a procurar palavras no ar, eu que ando sempre com elas nas pontas dos dedos. É que te amo muito além de condicionamentos físicas, geográficas ou gramaticais. Como se exprime a totalidade de um sentimento? Naquele primeiro dia em que entrei no bar e olhei para ti, o meu coração portou-se como se tivesse tomado um shot de café e tive de lhe sussurrar ‘quieto aí ou pensas que tens 15 anos e não tarda estás aí com a conversa dos entardeceres mágicos!”. Depois, passou a shot de vodka redbull quando me disseste para irmos a outro lado. Quando andámos pelo Cais do Sodré a ver meninas de Chelas tirarem a roupa sentia-me tão bem a teu lado que nem pensava que estava a teu lado (e não, não era por ser mais gira do que a menina que tirou a roupa!). Quando me deste aquele beijo lá no velhinho Jamaica pensei de mim para mim ‘ora isto é que é um beijo, foda-se!’ e hoje cambaleio a teu lado uns dias, quando a vida me entorta os sonhos, e direitinha quando se alinha em novos enredos, mas sempre com a sensação, de cada vez que te beijo, que é a primeira vez. Diz-me lá se isto não é lamechas?

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