terça-feira, 6 de março de 2012

A sex tape do Castelo Branco tem tudo menos sexo

Imagino que seja constrangedor ver os nossos vizinhos a foder. O senhor do café com a barriga a declinar sobre o balcão, a cabeleireira de cabelo loiro e sobrancelha morenaça com mamilo espetado debaixo do top de licra, o técnico da Zon de gatas com a cuecota a ver-se, a dona da mercearia com o cabelo artilhado e os pés inchados a saltarem do sapato, a do segundo esquerdo com as mamas grandes e as calças tigresas a empacotar o excessivo volume traseiro empinado em saltos agulha do chinês, o velhote da cave com pelos a saírem das orelhas e catarro crónico e o dono da tasca, com os dentes podres. É contra a ordem natural das coisas ver essas figuras em pelota e interações mais íntimas. Agradece-se que qualquer interação fique reservada a quatro paredes e seja realizada de preferência em silêncio. Pois quando assisti àquilo que se convencionou chamar a sex tape do José Castelo Branco, estava a ver a minha rua inteira nua a foder, o mesmo é dizer, a deitar o erotismo pela sanita abaixo como dejeto orgânico. É que ao menos, dado que se deram ao trabalho de filmar aquilo, podia ser uma sex tape com bom sexo. Ok, isso já é pedir demais. Com sexo, vá lá. Mas aquilo nem é sexo, nem é cinema, nem é nada. Nenhum elemento salva a situação, catastrófica do principio ao fim, cuja primeira estocada é dada pela posição da câmara, estática, sem um único traveling ou close up para dar emoção à coisa e com um enquadramento que só nos permite ver o traseiro depilado do José e o traseiro peludo do outro senhor. Mas continua, porque depois ainda temos o guião que é pouco mais do que uma aula de fitness - agora vais tu, agora vou eu, agora levanta a perninha, agora vira-te ao contrário, agora esteja quieta e dê lá um jeitinho, vá lá não seja chata, quer chupar sim quer, pois então chupe, já chega, agora dê um jeito ao casaco que está pouco chique, isso mesmo, e agora vamos lá a trocar, já está. E ainda mais pelas três personagens que protagonizam o que supostamente seria uma sessão quente de sexo a três: o José é tipo uma osga, sem pingo de sex appel no corpo de pele oleada e músculos mal definidos, o outro tipo é gordo, muito gordo, e mais peludo ainda e ela tem celulite que nunca mais acaba. Deu me uma indigestão ver aquilo. Uma sessão masturbatória com a mão para cima e para baixo seria eventualmente mais interessante do que aquele rodopio de posições, ais esganiçados e ocasionais e corpos assexuados, peludos e descaídos todos à mistura. Vi durante dias coxas gordurentas e pelos a saírem do ânus quando fechava os olhos como uma visão do inferno e jurei a mim mesma que sex tapes só mesmo daquelas a sério, com gajas boas e tipos musculados até ao dedo mindinho!

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