terça-feira, 6 de março de 2012

Coisas que me irritam

Há muitas coisas que me irritam por aí. Os putos aos gritos no supermercado e os pais com excesso de fleuma britânica – olha que giro, está a fazer birra – irritam. Os tipos a deitar latas e garrafas para o chão, irritam. A imoralidade dos políticos e a amoralidade de quem vota neles, irrita. O caos urbanístico do Algarve, em que esterqueiros coabitam ao lado de greens para all-turistas, irrita e provoca errupções cutâneas. Os tipos e as tipas que vivem obcecados pelos telemóveis, carros, salários, ganho mais do que tu, fodo mais do que tu, cago mais caviar do que tu, irritam. Mas até se dá o desconto. Afinal, cada um é como cada qual e não nos compete a nós arrogarmos que possuirmos a verdade nem andarmos por aí a tentar acordar o mundo. Para eles, nós também seríamos alienígenas, caso conseguissem soletrar a palavra. Mas o que me irrita mesmo são os tipos que andam para aí, que lêem umas coisinhas, estilo a Y e a Visão de fio a pavio, mais uns livros muito outsider, geralmente de poetas bêbados norte-americanos, que devoram filmes coreanos, porque a Europa está démodé e os norte-americanos são incapazes de se erguer além do maniqueísmo dos super-heróis da Marvel, que recebem a Cool todos os dias no email para saberem o que realmente está a dar a noite, cujo gosto – ou sensibilidade – é apenas uma colagem de rótulos supostamente undergroud, andarem por aí a pregar sobre o que é Cultura ou o Amor à Arte. Se gostam tanto de ARTE, não se preocupem tanto com o que os outros consomem. Se gostam tanto de CULTURA, não andem por aí a tentar dividir o mundo entre os dignos de aceder a esse universo, cujos códigos confesso desconhecer, mas acho que têm, acima de tudo, a ver com critérios quantitativos (menos é mais), e aqueles que não percebem nada disso, mas têm a mania. Esses profetas da cultura têm, no mínimo, o dom da clarividência! Desconfio sempre de quem diz que ‘sem música não respiro’, que ‘este autor revelou-me a verdade’ ou ‘só vejo bons filmes na Cinemateca’. Acima de tudo, desconfio de quem está demasiado preocupado em apregoar que gosta. Quem realmente gosta, antes de mais, desfruta da cena. Acho eu…

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