quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Já não aguento mais o discurso do medo e o 'agradeçam' terem a merda de um emprego


Andam para aí a despedir jornalistas como tordos, não só no Público, mas a conta gotas noutras publicações. E directores dos jornalistas. E a fechar revistas. E a pedir a redações reduzidas ao osso que produzam com a mesma qualidade e que assegurem as vendas como nos anos dourados da economia portuguesa.  O discurso roça a chantagem pura. 'Agarrem', 'lutem' pelo vosso posto de trabalho. Esfarrapem-se aí, seus escravos, e agradeçam a sorte de terem emprego e já agora engraxe-me aí os sapatos e vá-me buscar um café, ó boa. Como se fosse uma benesse trabalhar e não fosse porque há quem escreva que outros vendem revistas e jornais e fazem dinheiro. Ou seja, passa-se o mesmo fenómeno que visita atualmente em bancos, lojas, restaurantes, micro e nano empresas ou empresas com milhões de euros de lucro anualmente, mas que mesmo assim querem 'austeridade' para se assegurar que os membros da administração ainda levam o bónus de um ou dois milhões de presente no Natal. 
Assiste-se ao intensificar da cultura do medo. As pessoas ao meu lado estão em pânico. Em pânico de perder o emprego. Sem compreenderem que esse medo é usado para as manipular como marionetas. O problema é do país, claro, mas é mais profundo: é do sistema capitalista, que banalizou o valor humano em prol do dinheiro. Vivemos num mundo esquizofrénico, mas nem damos conta que aquilo que tomamos como normal é a subversão dos valores humanos mais elementares. A riqueza está nas mãos de uma minoria, 30% da população portuguesa é pobre e achamos que isso é normal e qualquer menção à ideia que não tem de ser assim, ativa o medo e as mentiras que nos foram inculcadas durante décadas impõe-se: há o medo do 'caos' porque 'não há opção'. Enquanto as pessoas viverem em medo, centradas nos seus umbigos e nas suas aspirações de terceira ordem, os grandes vão continuar a explorar os pequenos e a encher os bolsos e nós ficaremos cada vez mais pobres. Até esse dia, continuo a ver esta loucura através de um vidro, as pessoas como peixes num aquário, sem perceberem que a água onde nadam está contaminada. 

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