quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Eu e as mulheres gordas

Não gosto por aí além de mulheres gordas. Não tenho de gostar e já me apaziguei com o facto de ter esta dificuldade do foro relacional. Quer dizer, não temos de amar toda a gente. Não lhes quero mal e nem as trato mal, nem nada. Mas sou capaz de as descriminar um pouquinho. Quer dizer, agora que penso no assunto, acho que não tenho uma única amiga gorda.
Apaziguei me com o facto de não gostar de mulheres com excesso de peso – excesso, não estou a falar de uns quilos a mais - quando há um par de anos falei com um endocrinologista, daqueles mesmo topo de gama, e lhe perguntei, finalmente, olhos nos olhos, com gravador e tudo, para depois não vir dizer que não tinha dito e tal: "Professor” - sim, o tipo era professor e já se sabe que quem é professor tem um grande apego ao título -, há alguma doença que justifique a obesidade?". E o bom do professor, que também, a bem dizer da verdade, tinha uns quilinhos a mais de quem resvalava para os doces, olhou-me bem fundo dos olhos e disse-me "não, minha querida, não há: é se obeso porque se faz uma alimentação desequilibrada e não se pratica exercício físico" Ou seja: porque se é preguiçoso. E eu não tenho muita paciência para preguiçosos, excepção feita àqueles que são perfeitamente felizes com o assunto e não chateiam ninguém com os seus problemas e a sua vida  (pudera; se não se mexem, não há mesmo nada que possa acontecer, é uma lei da física). É que há muitos queixosos por aí, mas a correspondência entre um rabo de dez quilos e o rol de queixas é muitas vezes proporcional a vidas repletas de dramas, sendo que o peso é um deles. Claro que há o proverbial gordo bem disposto, mas não conheço nenhum (conheci um, mas faleceu por motivos relacionados com o excesso de peso).
Respirei de alívio depois de falar com o médico. Tinha passado a minha vida a ouvir a velha história: "tenho um problema de saúde e não consigo perder peso" a ser-me atirada à cara pela minha colega do lado quando ela comia avidamente um donut, tendo antes emborcado um bife com molho à casa empapado de batatas fritas. Sentia que não gostava daquela pessoa (“és gorda!” apetecia-me dizer), mas pensava "meu deus, ela pode ter mesmo uma doença terrível que a faz ficar assim. " Pois não tem. É preguiçosa. E depois ainda se queixam. Muito. De como se esforçam para emagrecer e de todos os problemas que têm na vida. De como ninguém as quer. E aí comem mais um pouco. E fazem questão de dizer, com olhos fulminantes, para as magras: “pois, a ti qualquer trapo te fica bem”. Também não é bonito. É que se ao menos estivessem bem com o corpinho que têm, pronto, era lá com elas. Porque nesse caso entrávamos apenas no campo da estética. Pessoalmente, Rubem nunca fez o meu estilo de pintor. Não é agradável de olhar, para aquelas pregas todas debaixo dos braços e para os rabos que me tapam o caminho para o cacifo no ginásio, atrasada para o duche, enquanto elas comem um snakzinho por causa da fraqueza provocada pelos cinco minutos na passadeira. Tenho de dizer “dá-me licença” e sinto-me sempre culpada quando digo ‘dá-me licença’ a alguém gordo. E elas afastam-se e olham-me como quem diz ‘olha a magricelas’.  

2 comentários:

  1. Não gosto por aí além de quem não gosta "de"... assim sem outro(s) motivos que não sejam o preconceito...

    Vai-se ver é só um preconceito meu... assim do tipo "que bom que há gente parvinha, para me sentir são de espírito"...

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