terça-feira, 22 de novembro de 2011

Não há dinheiro para o sorriso da criança

A partir dos vinte seis, vinte sete anos, e desde que exista uma relação considerada estável pela família (ou seja, um namorado que não seja toxicodependente, por exemplo), chega o tormento de ouvir a questão de 'e então um bebé' repetida sempre que há qualquer evento familiar. Nos últimos dez anos tenho me dedicado afincadamente a responder: ‘um bebé nada!’ (mesmo assim, com ponto de exclamação no final). Entre os motivos porque não tenho filhos encontra-se, para aí, em terceiro lugar um factor extraordinariamente simples: porque não tenho dinheiro para ter filhos! Ter filhos é coisa de ricos ou pessoas com espírito de sacrifício. Eu não sou nem uma coisa, nem outra. Argumento que choca com o contra-argumento das mães ferrenhas, que falam, é claro, do sorriso da criança e de como isso compensa tudo e que, no fundo, estou a ser ignobilmente egoísta. Pois até podia estar, mas nem é o caso. Na verdade, estou só a pensar na criança. Se não vejamos:
Se decidisse ter o sorriso da criança, seria forçada a ter de sustentar a dita criança com o mesmo valor com que actualmente me sustento a mim, ou seja, teria de contar entre as novas despesas a comida - leite e papa nos primeiros meses mas depois chegam ali aos sete e começam a comer que nem umas lontras - fraldas, roupinha e ténis de marca, infantário, babysitter, prolongamento do horário porque a mãe trabalha que nem uma escrava, ateliê de tempos livres, colónias de férias, médicos, medicamentos e terapeutas - todas as crianças agora fazem terapia a partir dos três anos de idade - cinemas, copos no Bairro Alto a partir dos nove e jantares no Eleven porque os miúdos agora tratam-se bem e tudo pelo sorriso da criança, mais playstation, xBox, wii, smartphone, portátil, tablet e afins.
Ou seja, teria de prescindir:
- Do ginásio
- das unhas de gel
- das duas ou três pecinhas de roupa na Mango, Zara ou Primark
- do jantar semanal com o namorado, que como seria o pai da hipotética criança, nem sequer me podia oferecer o jantar
- do jantar semanal com as amigas
- de workshops, massagens ou cursos
- do Super Bock Super Rock
- do Cais do Sodré
- De livros, jornais e revistas
- de escapadinhas cá dentro e lá fora

Ou seja, o bebé teria uma mãe gorda, mal vestida, sem qualquer vida social, estupidificada, possivelmente com pais divorciados, depressiva, frustrada e ansiosa. E onde é que ficava o sorriso da criança no meio disto? O que eu tento explicar é que, no fundo, estou a ser altruísta: estou apenas a pensar no bem-estar do bebé. Porque já se sabe que uma criança até pode ter tudo em termos materiais, mas o que significa isso sem uma mãe feliz?

1 comentário:

  1. Olá. Descobri o teu blog por acaso, mas já fiquei fã. Este artigo está especialmente delicioso. Só faltou a famosa frase (que eu já ouvi vezes sem conta pq tb não tenho filhos): Uma mulehr sem filhos é uma mulher incompleta. Não é 100% mulher!!! Aiiiiii
    Bjnhs e continua assim

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