Saltos altos à portuguesa

Ontem fui jantar fora, esplanada, noite quente, cansaço assim meio rom rom de gato a pedir aconchego de um copo de tinto, numa onda sweet love, portanto, mais indiferente ao mundo em redor do que em situações ditas normais. Mas o aparecimento de uma miúda de vinte e tal anos, em salto alto, a fazer toc toc na calçada portuguesa e em posição que me causou calafrios, dado que não era perpendicular ao chão, mas antes projectava um arriscado ângulo de apenas 30º entre a cara dela e o solo, foi suficiente para me fazer rodar a cabeça da mousse de chocolate. E vi, com estes olhos, um rabo que ia à vontade daqui até à China, enfiado numas calças de ganga skinny - wrong, claro - a rematar o look pseudo sexy com uns sapatos pretos de salto no cimo dos quais não se conseguia colocar-se. O meu sossego de sexta à noite arruinado assim por esta visão dantesca. Ainda vou perceber um dia porque é que as mulheres insistem em usar saltos altos se não conseguem andar com eles. Pode um paralítico correr com as pernas? Não. Portanto não tenta. É importante conhecermos as nossas limitações. Eu, por exemplo, sou incapaz de fazer uma aula de step: ou parto o step, ou parto um pé, ou parto a cara do professor, portanto, não tento. A mesma lógica devia ser aplicada aos saltos altos. Ou será que há uma incapacidade do sexo feminino quando se trata de lidar com o facto que não conseguem andar com eles, por muito giros e fofos e trendy que sejam? Algumas mulheres acreditam mesmo que estão em posição horizontal, como homo sapiens sapiens e não retrocederam à época em que os hominídeos se movimentavam em duas ou quatro patas conforme a ocasião? A imagem sexy fica desfeita e em vez dela vemos uma mistura entre uma corredora de marcha e o corcunda de notre dame. E depois não há forma de passarem despercebidas, porque os sapatos tornam-se instrumentos de percurssão em constante violaçâo da terra-mãe. Não tentem por favor. O mundo ficará mais bonito (e mais silencioso) e os meus jantares muito mais agradáveis...