Sei que é considerado má política falar mal. Não calha bem, como ir a uma reunião com nódoas na camisola, a não ser que sejam da baba da criança. Aí já ninguém exprime nenhuma opinião porque é má política criticar as mães e as suas crias. Mas, além da descriminação social de que a prática de falar mal sofre, ainda abre o flanco para que levemos com uma avalanche daqueles comentários muito originais: 'Tens é inveja' ou 'falar mal é sempre mais fácil' ou, melhor ainda, 'o que tens é dor de cotovelo' (é verdade, tenho, mas é porque bati com o cotovelo na porta da despensa hoje de manhã, ainda a dormir, para ir soltar um dos meus gatos que ficou lá trancado durante a noite - e agora ainda vou ter de levar com os defensores de animais a dizer que eu maltrato gatos em divisões de um metro quadrado por meio metro quadrado), são os que registam maior quota no mercado. Mas a verdade é que vou fazê-lo só porque me apetece. Só mesmo por isso. Quando há algo que acho que é mau, piroso ou estúpido, não consigo manter a boca fechada e lá perco assim mais uma oportunidade de ser politicamente correcta e de ter imensa gente a dizer-me como é ‘bonito’ o que escrevi, isto apesar de bonito ser adjectivo que não tem nada a ver com escrita, motivo porque, para falar em mau português, estou-me nas tintas. Não dizer nunca mal de nada a não ser daquilo que todos dizem alguma coisa de mau, ou seja, dizer mal em manada, é aborrecido.
Prova disso (ah ah, estamos a chegar à concretização da ideia): um tal de blogue chamado o Arrumadinho, que descobri pela tromba na fotografia que pertence ao marido da Pipoca Mais Doce (já tinha visto a tromba antes nas nas fotos de casamento da ‘pipó’), e que está alojado no Clix, onde eu foi parar quando vi ‘O’ título. Li Sexo e amizade - a minha versão e claro que tive que ir espreitar, antes de mais para saber quem era a personagem cuja versão do sexo e da amizade tinha direito a título destacado. E li o post - podem vê-lo três linhas acima, que eu não sou nada gananciosa e não quero roubar momentos de prazer a ninguém – e eis que li o maior chorrilho de lugares comuns possível e imagináveis. É verdade: ganhei respeito ao autor. Arrumadinho, sou a tua maior fã! É que não são apenas meia dúzia de lugares comuns - o que é fácil, coisa de amador, convenhamos, lugares comuns em cada linha (e o post ainda tem algumas) e isso, meu caro arrumadinho, merece crédito! É muito trabalho. Tens a cabeça mesmo arrumadinha! De tudo o que é pensamento convencional ou socialmente correcto ou generalizado por sabe-se lá que gurus de segunda categoria em livros de auto-ajuda. Aposto em como lês o Paulo Coelho. Diz-me, arrumadinho, como é que consegues? Dizer tanto sem dizer nada? Gastar caracteres e pontos finais e mais cenas assim da gramática e não teceres um único pensamento criativo? Ensina-me por favor! Acho que seria uma mulher muito mais feliz!
Exemplo:
“Depois há um segundo caso, que é o dos amigos que se enrolam várias vezes.
Aqui, acho que deixam de ser apenas amigos. Os amigos não vão para a cama uns com os outros”
A sério arrumadinho? Deixam de ser amigos? Arrumadinho, sexo é sexo, não é uma iluminação divina.
"Acho que uma amizade com um ex-caso ou ex-namorado é mais fácil de manter quando continuamos solteiros. A amizade e o passado estão circunscritos aos dois, por isso, pode haver saídas, conversas, telefonemas, SMS, cinemas, gargalhadas, copos, que ninguém tem nada a ver com isso, que ninguém tem de se incomodar com isso. Mas quando surge uma terceira pessoa na vida de um dos dois as coisas mudam necessariamente de figura."
Os ex-namorados são ex por algum motivo, mas quando temos um namorado novo temos de mandar o ex à vida porque o novo é uma besta que começa logo por interferir na nossa vida pessoal? A sério?Nunca tinha pensado nisso...
"O que nos parece insuportável e impensável numa relação com seis meses acaba por perder esse peso ao fim de uns anos. A confiança, a estabilidade, o amor fazem com que algumas inseguranças pareçam um bocadinho menos importantes." E? Boring...
Leiam que vale a pena e depois podem escrever à vontade que eu tenho é dor de cotovelo... Mereço depois de ter deixado o meu gato uma noite inteirinha a dormir na solitária.
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