segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Estamos a ficar mais velhos...



Pouca coisa há nesta vida de nada mais deprimente do que o 'estamos a ficar velhos'. Por isso, é que começo também a concluir que estar com pessoas que ‘estão a ficar velhas' é a forma mais depressiva de ocupar o tempo, à excepção de ouvir Damien Rice em repeat no automóvel em fase dor de corno. Isto a propósito de jantares de velhos colegas, velhos amigas, velhos parceiros, ex-namorados, tudo o que tenha acoplado o pretérito perfeito, cuja razão de ser seja o que foi e não o que é, é resulta sempre no renomear do que éramos e já não somos: mais magros, mais giros, mais loucos, mais ágeis, mais divertidos, mais espontâneos, em suma, agora isto é uma merda e os jantares servem para provar a teoria que há uma determinada fase da nossa visa que foi e já não é e, pelos vistos, foi a melhor de todas as que virão a seguir. O 'estamos a ficar velho’ é, à partida, como dizer que no futebol são todos uns mafiosos ou que o sexo é melhor sem preservativo: são verdades tão óbvias que só quem está ché ché pode perder tempo a dizê-lo, como reformados que, pronto, falam do tempo e espreitam o rabo da vizinha. Mas a essência do estamos a ficar mais velhos não é cronológica. É mais profunda. É o assumir de uma condição social e económica. Estamos a ficar mais velhos é ter filhos, casa de três ou mais assoalhadas, uma carrinha, saídas para jantar uma vez por semana em restaurantes indicados pela Time Out e copos em bares civilizados, ou seja, onde nos seja assegurada que a afluência não impossibilita a condição sine qua non de estarmos sentados, já a contar com as dores nas articulações e com as costas das qajas que já foram mães e portanto estão mesmo mais velhas. Ser mais velho é dar o que se tem como certo até ao fim dos nossos dias, começar a andar um pouco mais curvado, um pouco mais rasteiro, um pouco mais acomodado, um pouco mais politizado mas também mais realista, isso mesmo, com todo o peso dessa palavra, realista. As coisas são como são. Discute-se a política para se chegar sempre à mesa conclusão, que é não há nada a fazer, que sorte termos empregos e estamos de facto a ficar mais velhos. É essa fuga descontrolada ao que devia ser um assumir meramente cronológico - imbecil, mas cientificamente comprovável – e substitui-lo por com um comportamento de velho. A verdade é que se tenho os anos, não tenho necessariamente de ter a idade. Deus pode não se enganar nas contas, mas podemos sempre iludir as finanças com uma economia paralela, tornar o ‘velho’ uma declaração de irs forjada e apostar na fuga ao fisco.Não tenho problemas com sso e acho que os jan tares se tornam muito mais divertidos.

Sem comentários:

Enviar um comentário