sábado, 29 de outubro de 2011

Dias não

Gosto do dias sim. Tudo está encarrileirado. Tudo faz sentido. Mas não sei bem porque carga de água há uns dias que são não. Um não rotundo e gordo que nos espreita desde o momento em que abrimos os olhos. Em módulo não, toda a ordem parece uma enorme confusão. Tudo o que se tem para fazer parece uma enorme seca. Os dias não são como más manchetes de jornais, só que o jornal é única e exclusivamente sobre nós. E nestas alturas eu pedia um pouco menos de atenção. Em registo não, sou como os meus gatos, a contemplar horas o vazio, mas ao contrário deles, budas eternos, fico irritada por não mexer o cu mas sei que sou incapaz de o fazer. Os dias não não conhecem estado meteorológico. Bem jeito dava que viessem apenas em dias de chuva, mas estão-se nas tintas para isso. Os dias não são possessivos e pesados como um dinossauro. Não passam a correr, mas têm ritmo de tartaruga charrada. E fazem-me sempre sentir que devia estar num outro lado, a fazer uma outra coisa qualquer, por um motivo qualquer que desconheço. Cheiram a hospital, a roupa há muito tempo guardada, às esquinas de Lisboa antiga, principalmente as que ficam ao pé de discotecas. Apreciam roupa escura, mas na verdade apreciam só qualquer coisa a tapar o corpo por imperativos sociais ou térmicos, porque não têm  pachorra para se olhar ao espelho. E quando querem são muito desagradáveis, porque mostram a ruga, a palavra errada, a opção à deriva. Nunca tomar decisões em dia não, nem ter conversas importantes. Os dias não são como as pessoas invejosas a quem não podemos dar muita importância. São como um mau vinho tinto que só se pode beber se não lhe dermos muita atenção.

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