Gosto do dias sim. Tudo está encarrileirado. Tudo faz sentido. Mas não sei bem porque carga de água há uns dias que são não. Um não rotundo e gordo que nos espreita desde o momento em que abrimos os olhos. Em módulo não, toda a ordem parece uma enorme confusão. Tudo o que se tem para fazer parece uma enorme seca. Os dias não são como más manchetes de jornais, só que o jornal é única e exclusivamente sobre nós. E nestas alturas eu pedia um pouco menos de atenção. Em registo não, sou como os meus gatos, a contemplar horas o vazio, mas ao contrário deles, budas eternos, fico irritada por não mexer o cu mas sei que sou incapaz de o fazer. Os dias não não conhecem estado meteorológico. Bem jeito dava que viessem apenas em dias de chuva, mas estão-se nas tintas para isso. Os dias não são possessivos e pesados como um dinossauro. Não passam a correr, mas têm ritmo de tartaruga charrada. E fazem-me sempre sentir que devia estar num outro lado, a fazer uma outra coisa qualquer, por um motivo qualquer que desconheço. Cheiram a hospital, a roupa há muito tempo guardada, às esquinas de Lisboa antiga, principalmente as que ficam ao pé de discotecas. Apreciam roupa escura, mas na verdade apreciam só qualquer coisa a tapar o corpo por imperativos sociais ou térmicos, porque não têm pachorra para se olhar ao espelho. E quando querem são muito desagradáveis, porque mostram a ruga, a palavra errada, a opção à deriva. Nunca tomar decisões em dia não, nem ter conversas importantes. Os dias não são como as pessoas invejosas a quem não podemos dar muita importância. São como um mau vinho tinto que só se pode beber se não lhe dermos muita atenção.
Sem comentários:
Enviar um comentário