quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Ir para fora cá dentro

Hoje fui ao aniversário de uma amiga. Uma amiga que é, em muitas  e variadas coisas, a antítese de mim. A minha amiga, a quem vamos chamar C., é daquelas pessoas que gosta de frases motivadoras ao estilo de carpe diem ou keep calm and keep on laughing ou a clássica always look to the bright side of life. Nunca, mas nunca, se esquece de um aniversário e personaliza sempre cada presente que oferece de uma forma irritantemente original. No natal é  capaz de fazer cinquenta embrulhos diferentes porque cada pessoa é diferente (sim, C. acredita mesmo nisso) e, na festa de aniversário. tem sempre uma lembrança fofa para os convidados, feita por ela, porque C acredita que isso é o que confere valor a tudo. Acorda às seis da manhã para aproveitar o dia, tem olho para o pormenor, paciência para estar horas e horas na cozinha e acredito que, em sua casa, não há lugar para o banal em nenhum recanto. Já eu sou a baldas total. Nunca  me lembro de um aniversário,  coisas hand made só na feira do artesanato, os presentes saem da mão dos profissionais de embrulhos para a  mão dos destinatários sem um momento de hesitação, acordar antes das 10 é punição, as frases motivacionais são eliminadas como spam do meu feed do face (sim, sou assim para o besta) e a minha sensibilidade para o design é limitada ao catálogo do ikea. Chego por isso àquela conclusão óbvia de que adoro os meus amigos porque não são eu, graças a Deus. Porque me dão uma outra perspectiva da vida que escapa à minha, na qual tendo inevitavelmente a ficar viciada, e isso faz-me aceitar a diferença como o caminho que se percorre para fora, de modo a depois regressar para dentro, com alguma coisa que antes não se tinha. São como escapadinhas, mas sem o booking. Ou um looping sem o cinto de segurança. Os amigos são quem nos permite evadir do ângulo de 30 graus pelo qual observamos esta existência e ampliá-lo para os 180 sem precisar de esquadro. Ir à pesca, fazer ciclying, reciclar, aceitar, encontrar, discutir, entender.  Porque, se fossem como eu, seriam absolutamente desinteressantes, não porque eu seja desinteressante, tenham lá calma, mas porque seriam mais do mesmo. E, no final, não consigo apagar as frases motivacionais de C. do meu mural porque, sendo dela, as gosto de ler todas as manhãs.



Sem comentários:

Enviar um comentário