sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A importância da merda

Pergunto-me como é que a merda pode assumir tamanha importância na qualidade de vida de uma mulher e dos restantes habitantes de um T3. Essa tal de merda, vulgo cocó - ou coco, em linguagem de tia -, torna-se tão desejada como a tolerância de ponto do antes-da-crise. É verdade. Um bebé é um doce, o ser mais maravilhoso do mundo, mas SÓ se cagar com a regularidade de um relógio suíço. Se esse não for o caso, é mais temível que o Snowden para os americanos. Se aqueles intestinos minúsculos, mas capazes de despejar toneladas de detritos tóxicos, decidem fazer greve, a relação directa que se estabelece entre a obstipação e as goelas da criança assegura que não há requisição civil que nos salve da desgraça. Greve é greve e faz parar o pais, imobilizando todos os serviços mínimos, paralisando as actividades económicas e as principais vias de comunicação, terrestres e aéreas. Ninguém come, dorme, vê a Judite de Sousa a entrevistar o Marcelo, faz downloads ilegais ou uma porcaria de um like no facebook. Não há cocó, não há vida no planeta terra, a não ser na busca insana de atingir terra firme, num oceano em que um tal de Bebé Gel se revela a arma secreta contra uma noite que se avizinha tão má como as do Urban Beach. Depois, pai e mãe, em expectativa, esperam pelo milagre, olhando para as caretas e esgares do pequeno ser - será que está a fazer, será que não está -,  que não é o das rosas, mas quase,  podendo qualquer um deles ser Dona Isabel quando dizia 'são cocós, senhor, são cocós'. E sim, quando por fim acontece, os pais suspiram de alívio, batem palmas, abraçam-se com emoção porque sabem que podem sobreviver a mais uma noite.

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