quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Estado de graça

Há quem diga que gravidez não é doença. Há quem vá mais longe e em linguagem sacrossanta lhe chame 'estado de graça', quando de graça não tem nada. em primeiro lugar porque se gasta dinheiro a rodos e depois porque é demasiada canseira. Não se consegue, por exemplo, fazer uma pedicure decente em casa sem correr o risco de cortar o dedo em vez da unha ou de criar uma versão rasca do Kadinsky, e  já apertar uma sandália é um jogo de contorcionismo que decorre em cima da cama, o que também é pouco higiénico, mas a única forma de sair calçada de casa, e lá tenho de sentar a bunda, três vezes ampliada, e meter a perna e o pé de lado e vai disto, uma fivela,  e depois descansar e lá vai a outra perna, mais um esforço, e a seguir tenho de ir para o duche outra vez. Isto sem esquecer que há zonas do nosso corpo que simplesmente desaparecem do raio de visão, puff, precisa de depilar ou não, amor o que é que achas? E eis que todos os anos de ginásio vão para o lixo, euros e euros deitados fora, ao arfar como umas lontra a subir um lance de escadas, mas eis quando a autonomia de gaja emancipada se esvai pelo autoclismo, que passa a ser puxado umas vinte vezes por dia,  porque ir ao Ikea comprar aquela estante e metê-la no carro, por nossa conta e risco, torna-se inviável e lá precisamos de umas mãos masculinas  e de uma voz que repete 'mas é mesmo preciso gastar dinheiro nisto?', enquanto o supermercado se torna um antro de escolhas dilacerantes, levo o leite ou o pacote de sumo, isto porque o corredor do vinho se torna um oásis inacessível e não posso andar por aí com pesos, o melhor é só mesmo levar uma embalagem de gelado.

1 comentário:

  1. ...de qualquer modo há poucas coisas, se alguma, mais interessante que mulher no Estado e na sequência dele, se se nasceu obra da Natureza, claro...

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