quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Abraço entre a tontinha e o parvo é o símbolo da contestação nacional


Somos o que somos e por vezes isso deprime-me profundamente. De uma manifestação com 500 mil pessoas, o que se tornou símbolo? Longe vão os tempos da criancinha a colocar o cravo no cano da espingarda. Agora, é o tempo dos reality shows, Casas dos Segredos, das tardes da Cristina Ferreira, peixeira encartada e ancas largas como o povo gosta, e da Julia Pinheiro a atravessar uma menopausa sem fim, com uma necessidade incontrolável de dar gritos estridentes. Por isso mesmo, qual a imagem que se assume como símbolo do que aconteceu naquela tarde? Aquela que está a ficar célebre como o Abraço. Resumindo: uma gaja boa, como o povo gosta, que se agarrou ao polícia de tropa, que também é bom, como as gajas gostam, e burro, como as gajas gostam, porque de outra forma não seria polícia de choque. E de repente, uma tipa com um discurso de quem andou a fumar charros é entrevistada porque se querem saber quais as 'motivações profundas' para aquele abraço. E todos querem saber o que é que o polícia lhe disse e depois ela lança-se sobre um discurso realizado com o limitado número de vocábulos que domina, sobre o olhar, o olhar lá do polícia giro. Sejamos francos: todos querem saber se ele teve uma ereção ou se trocaram telefones ou se ficaram amigos no Facebook. Não tarda muito, vai haver uma reunião patrocinada por um dos canais de televisão, em direto e a ter audiências como o caralho, do reencontro entre a gaja boa charrada e tontinha e o polícia bom com ar de parvo, com apresentação da Teresa Guilherme e pedidos de casamento em direto. O problema deste país é que no final só queremos é a superficialidade das coisas. O entretenimento. O show of. A manipulação dos media, da Sic à Maria, do Expresso à Telenovelas, porque todos eles só querem é vender, portanto, com mais ou menos verniz dão às massas o que elas querem. E se o que elas querem é isto, estamos bem fodidos.


Ps: deste-me a dica, intemporal, e eu não resisti, claro!

1 comentário:

  1. “…/como o caralho/...”
    “…/estamos bem fodidos.”
    “Somos o que somos e por vezes isso deprime-me profundamente.”

    Compreendo perfeitamente a TUA depressão.

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