Não me lixem o mito

Fico sempre arrepiada quando há um filme perfeito e depois se faz a sequela - ou prequela que agora também está na moda. Já lixaram tanto o cinema com o espírito de prolongar o que é perfeito, seja para facturar mais uns cobres ou para satisfazer o ego entretanto desfalecido do realizador, que é sempre de desconfiar e recear. Lembro-me do 'Matrix' que nunca mais foi igual. Do 'Aliens, o Oitavo Passageiro', diversas vezes assassinado à posteriori. E agradeço nunca se terem lembrado de uma parte II do Pulp Fiction. Às vezes, raramente, as coisas até correm bem e a segunda tentativa mantém o perfume da primeira, mas é difícil, porque o espírito de um filme é algo tão subtil que é preciso segurá-lo com ternura e saber instilar-lhe nova vida na velha que permanece na nossa memória. No caso do Linklater, teve essa sabedoria quando voltou a pegar no Ethan Hawke e na Julie Delphy, pueris e lindos em 'Antes do Amanhecer', e os filmou nove anos depois em Paris, para 'Antes do Anoitecer', onde lá estavam eles, menos pueris, mais desencantados e ainda lindos. Correu bem. Mas agora, Linkdlater vai para a terceira e como esgotou os amanheceres e adormeceres (não seria isto já um sinal para estar parado?), vai de lhe chama 'Antes da Meia- Noite'. Tenho medo. Antes da meia-noite só coisas que metam vampiros e lobisomens, de outras não tenho memória...