domingo, 24 de junho de 2012

Não estou nem agradecida nem orgulhosa: joguem e pronto


Estou mesmo farta que agradeçam em meu nome uma coisa que eu não quero agradecer. Ligo a televisão e tenho os três canais principais a agradecerem humildemente a onze senhores cujo trabalho é correr de um lado para o outro num campo relvado, com o corpo coberto de tatuagens, brincos no ouvido, penteados à night in Albufeira, e a quem, pelos vistos, todos os portugueses estão gratos. E eu também, quer queira quer não, porque o agradecimento é sempre dado em nome da nação, com hits da antena 3 em fundo, para tocar ao coração. Ah, é verdade, descobri também na televisão que não só estou agradecida, como estou orgulhosa, orgulhosa nos matulões e, pelos vistos, o brinde é estar orgulhosa também no meu país. Como não é esse o caso - não estou agradecida nem orgulhosa - agradecia que não falassem em meu nome. É feio. É abusivo. Tenho mesmo de averiguar se não é invasão de privacidade. O orgulho e a gratidão são sentimentos por demais nobres para os desperdiçar em futebol ou num país que se auto-permitiu ir pelo cano abaixo e que agora está adormecido pelas pernas do Cristiano Ronaldo. Que são umas pernas jeitosas, é verdade, mas são isso: pernas. Um golo é um golo, não é a salvação do país, nem a saída da crise, nem o acordar das consciências adormecidas, nem o descobrir de novos mundos. O futebol é, da última vez que fui ver à enciclopédia, um desporto. Não uma revolução. Não uma mudança de mentalidade. Não um ato heróico. Portanto, parem lá com essa merda se faz favor. É que seja como for os tipos não estão a fazer mais nada do que a sua obrigação e a arranjar mais uns contratos milionários. A nossa conta não vai ganhar um tostão com o Euro. Os nossos políticos sim, porque é ainda mais fácil enganar um povo em adormecimento cerebral. Eles é que deviam agradecer ao Ronaldo. Eu não ganho para isso.

2 comentários:

  1. Clap clap clap! Faço das tuas palavras minhas! Como li há uns tempos, uma frase de um humorista (não me recordo ao certo quem): a ter em conta o que eles ganham, devia ser a selecção a apoiar o país, e não o contrário.

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