quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A facilidade de ser amoroso

Vivemos numa sociedade de tal forma plastificada, que a coisa mais fácil que existe é sermos adoráveis. Ser um ser adorável já não é um desafio: é uma obrigação tão fácil de atingir como chegar ao 12º ano desde a reforma de ensino que passou o chumbo para retenção e nos tornou escravos do sucesso escolar europeu, reformulado à força para a versão nacional do passam todos que é para ficar bonito na fotografia.
Ser adorável em qualquer círculo social, site, facebook, twitter ou blogue consiste em algumas regras simples e ao alcance de qualquer um que lhe adicione uma grande dose de concentração (nunca dizer realmente o que se pensa) e disciplina (alimentar diariamente o fluxo de não informação com dados perfeitamente irrelevantes).
São quatro os princípios básicos:
1. Nunca dizer nada com que a maioria não concorde :”o meu filho fez cocó e emocionei-me às lágrimas”, por exemplo, ou “o amor é o que faz girar o mundo” ou, melhor ainda, “qual de vocês não se sente uma lontra depois de comer três tablets de chocolate”?
2. Para que a mensagem chegue a uma vasta maioria, ter a certeza que aquilo que se diz não têm absolutamente nenhuma relevância para nenhum ser humano no planeta. Só assim se cria uma base de uniformidade.
3. Pontuar o discurso com muitos lugares comuns.
4. Dizer sempre em resposta a alguém que é linda, fofa, fantástica, maravilhosa.
Com estes quatro pontos, qualquer um pode ser um poço de fofura absolutamente desinteressante e ter uma larga vastidão de fãs a dizer que se é maravilhoso. Com alguma sorte, ainda consegue borlas de marcas e presentinhos para usar o poder de opinion maker que entretanto se adquire quando não se fala de coisa nenhuma.
Ora, há aqui uma questão que não é possível deixar passar em branco: é que há uma multidão de seres a alimentar esta indústria. Mas isso é fácil de perceber: são simplesmente fofinhos wanna-be, como os miúdos que andam nos castings para a próxima novela da tvi. Sem eles, este sistema não seria possível, mas a verdade é que não são eles que ganham dinheiro e favorzinhos. Ou seja, são eles os verdadeiros imbecis.

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