quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Crise? Qual crise?

Ele há coisas que me fazem espécie. Não por medo de contaminação pessoal - que isto de pensar por mim é o meu ave maria pessoal - mas no sentido em que me aterrorizam. A estupidez humana é das coisas mais subvalorizadas que existe por aí, mas das mais perigosas. Torna os seres vulneráveis a umas alminhas com mais algum Q.I. e sonhos narcísicos de afirmação pessoal, que só têm de manipular os descerebrados como marionetas para obter os seus malévolos intentos, à semelhança dos vilões nos contos de fadas. O problema é que a Bela Adormecida teve o príncipe para a despertar com um beijo, assim como a Branca de Neve, e lá a outra, a sopeira, calçou o sapato e viveu rica para o resto da vida, ou seja, têm mais defesas sobrenaturais do que quem vive a ser despojado dos seus direitos. O culpado? Não, não são os políticos. É a estupidez dos homens. Que se revela das mais diversas formas, do inseto à barata. Se não, veja-se a quantidade de comentários que invadiram sites, fóruns, facebook e afins relativamente a uma época do ano da qual não sou grande fã, mas que nos meus direitos adquiridos - leia-se contrato de trabalho - tenho reconhecido como tempo de descanso. Eu e muitos outros lá gozámos uns dias de ócio - lamento profundamente que os funcionários públicos tenham baixado a cabeça a mais esta, mas azar do caraças, se não se mexem ninguém o faz por eles - enquanto outros lá meteram um dia de férias! Mas eis que, face às imagens de um país parado, apesar do chicote da Troika, começam as vozes de burro com pérolas como "em vez de estarem a trabalhar, estão aí, no bem bom', "isto é que é ajudar o país a sair da crise, esses porcos em casa a dormir' ou, melhor ainda "onde é que está a crise, hem? Com tanta gente nas ruas? E os restaurantes hem? Falam de crise, mas continuam aí, a jantar fora, à grande e à francesa”.
A poluir. Eu acrescento o que estes comentários tinham subentendido: fuzilem-se já esses energúmenos que tiveram um fim de semana prolongado por altura do Carnaval. Já! São eles os culpados e merecem ser apedrejados em São Bento. Porque como se sabe, a falta de produtividade não tem nada a ver com a proliferação daquela espécie de empregado que chega a horas como um relógio suíço e depois passa as oito horas do dia no Facebook, mas como é muito assíduo, leva sempre a promoção no final do ano. Ou com o gestor que simplesmente não tem ideia de como gerir, o que é complicado, principalmente porque até tem um curso só para isso. Não: fuzilem-se os que tiram uns dias longe do manicómio ou, pior ainda, os que ainda saem à noite ou vão jantar fora, porque isso, na opinião da maioria, é um crime. Um crime contra a moral e contra a nação. Devíamos estar todos a economizar que nem loucos. Quanto muito, devíamos estar todos a pedir na rua. Isso sim, é crise e esforço nacional.
Claro que também podemos dizer que é inveja, maledicência ou, pior ainda, estupidez humana. A estupidez de não olhar para além da superfície das coisas. É a estupidez de quem vive mais a vida dos outros do que a sua. A estupidez de quem engole chavões e ideias feitas como amendoins. A estupidez de quem é facilmente manipulável por uns senhores chamados políticos (que continuam a jantar fora). Mas isso se calhar sou só eu a dizer, eu que esturro o cartão de crédito em jantares porque me recuso a ser vencida pela crise.

6 comentários:

  1. Acho bem!
    Afinal de "vira casacas" e de invejosos está este país cheio, aqueles que só falam nas costas e que nada constroem.
    Se pudesse, também usaria o cartão de crédito, mas a minha consciência impede-me de o fazer. Mas temos que continuar a consumir, com conta e medida, claro; porque se não o fizermos, ai é que caímos de uma vez.
    Parem de falar mal dos outros, e exponham as vossas ideias de forma clara e objectiva; assim sim, poderemos rumar contra a crise que já é antiga e de mentalidades. Poderei mesmo dizer, que é uma crise tão enraizada neste povo, que talvez seja até geneticamente portuguesa.

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  2. Eu tenho, acerca destes senhores (e senhoras)o hábito de dizer: Digam-me primeiro quem são, o que fazem e onde, e que erros não cometem ...

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  3. ...são narcisos, nada fizeram em parte alguma e só dizem estupideses.

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  4. Em parte concordo, pois também acho que quando se tiram dias de férias a produtividade não vai aumentar, vai é diminuir, porque em muitos trabalhos pode-se perfeitamente passar o dia no facebook, como disse. Mas confesso que sou daquelas pessoas que me faz alguma espécie ver montes de carros de alta cilindrada, novos, nas estradas, as lojas e os restaurantes cheios. Cada um sabe o que faz com o seu cartão de crédito, mas a verdade é que a nossa mentalidade de querer viver acima das nossas possibilidades, "porque os outros fazem o mesmo e eu não quero ser diferente", o crédito que até agora foi fácil, o acumular de dívidas de todos nós, acabou por se tornar um buraco gigantesco. E então sim, faz-me espécie ver os restaurantes cheios e os carros novos. Porque quando as familias ficam sem casa (vão para o rendimento minimo, ou coisa do género) e os bancos a arder no empréstimo, deixam de ter dinheiro para emprestar a quem quer abrir uma empresa ou está aflito e precisa de pagar ordenados aos empregados. Por isso não é assim tão certo que seja só da minha conta, se eu "gastar até esturrar" dinheiro que ainda não é meu, quando não sei se tenho trabalho no mês que vem.

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  5. Eu sou pobre e não tenho inveja dos ricos, tenho um carro velho e nao tenho inveja nem critico quem tem um carro novo. Se assim é, talvez o outro tem mais capacidade, sorte ou oportunidade...
    Senão vejamos, porque nao imaginar um mundo de 1000 homens e mil mulheres, cada um com mil tostões no bolso, um carro azul de uma so marca para os homens, outro igual, mas cor-de-rosa para as mulheres.
    Só uma marca de leite, que todos bebam água, todos eles vistam jeans, elas, sais compridas....deveria ser interessante...
    em conclusão, conheço muitos seres humanos por esse mundo ocidental, mas nenhum com tantos adjectivos pela negativa como o português.

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  6. A verdade é que a quem sempre esteve em crise é-lhe chupado o sangue
    para encher as algibeiras a toda uma corja de LADROES

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